Quando ouço "Deus te abençoe"
"Deus te abençoe." Ouço essa frase com alguma frequência — nas despedidas apressadas de um vizinho, no carinho sincero de um parente religioso, ou até no caixa do mercado, dita como um desejo de bem. E embora eu seja deísta e não compartilhe da visão de um Deus pessoal que intervém nas nossas vidas, não me sinto ofendido. Muito pelo contrário.
Para mim, essa expressão carrega a intenção de cuidado, de proteção, de bons votos. Não a tomo como uma doutrinação ou tentativa de conversão, mas como o reflexo da espiritualidade e da linguagem cultural de quem a pronuncia. É como receber um sorriso: mesmo que não tenha sido feito do jeito que eu faria, ainda é um gesto de humanidade.
Claro, há contextos em que a frase pode soar automática, ou mesmo impositiva. Mas, em geral, vejo nela um eco daquilo que também acredito — que desejarmos o bem uns aos outros é parte essencial da experiência humana. Ainda que eu não espere que Deus intervenha nos caminhos da minha vida, creio numa ordem natural, numa inteligência criadora, e sobretudo, na responsabilidade ética que temos uns pelos outros.
Então, quando alguém me diz “Deus te abençoe”, eu sorrio e agradeço. Porque, no fim das contas, mais importante do que a teologia por trás das palavras é a gentileza que as move.