Salvo de quê?
Se preciso ser salvo, seria da ideia de transferir a outros — sejam eles pessoas, doutrinas ou instituições — a tarefa de viver com consciência, agir com retidão e buscar o bem. Se preciso ser salvo, então que seja da passividade espiritual, dessa crença de que minha transformação depende de algo exterior, quando na verdade ela nasce de dentro, do exercício contínuo da liberdade e da razão que Deus me concedeu.
Creio em um Deus único, que me deu não um caminho pronto, mas a capacidade de construir o meu, guiado pela ética, pela curiosidade e pela responsabilidade moral. Não preciso de mediação para me conectar com o divino — preciso de coragem para ser íntegro, de humildade para aprender e de amor para agir com justiça.
Se há algo que deve ser redimido, talvez seja o comodismo, o medo de assumir a própria jornada espiritual. E nisso, sim, me esforço diariamente: para não terceirizar o que é minha missão existencial — crescer, compreender e fazer o bem, livremente.
Não vejo o ser humano como essencialmente corrompido, mas como imperfeito e em constante evolução. A “redenção”, para mim, está em viver com integridade, cultivar a sabedoria, agir com empatia e contribuir para um mundo melhor. Não é uma salvação imposta ou alcançada por rituais, mas um aperfeiçoamento que parte de dentro, inspirado pela própria ordem e beleza da criação.
Se existe um propósito maior, acredito que ele se realiza quando usamos nossa liberdade para fazer o bem, com justiça e amor. Não busco ser salvo no sentido religioso tradicional — busco compreender, crescer e me alinhar com aquilo que é verdadeiro e bom. Isso, para mim, é o caminho espiritual mais profundo e sincero.
