Sobre a inerrância e os limites do humano

Se quem escreveu a Bíblia foi humano — e, portanto, sujeito ao erro, às paixões, aos medos e às limitações do seu tempo — então por que exigir do texto algo que os próprios autores não poderiam garantir: a perfeição absoluta?

Como deísta, essa é uma pergunta que me acompanha com serenidade. Eu acredito que Deus é perfeito, sim — mas não espero que a expressão humana sobre o divino carregue essa mesma perfeição. A Bíblia, para mim, é fruto de uma busca sincera, mas ainda assim humana. E é justamente isso que a torna tão fascinante: não é um livro caído do céu, mas uma construção de esperanças, tentativas e descobertas ao longo dos séculos.

Quando se diz que ela é “inerrante”, talvez o que se deseje, no fundo, é segurança. Um chão firme diante do mistério. Eu entendo esse desejo. Mas prefiro caminhar com o desconforto da dúvida do que me prender à ilusão da certeza absoluta. Afinal, não seria mais coerente com a natureza humana — e até mais honesto com Deus — admitir que o que escrevemos sobre Ele carrega o brilho da inspiração, mas também a sombra das nossas limitações?

Acredito que Deus nos fala principalmente por meios que não mentem: a ordem da natureza, a lógica que sustenta o universo, a voz silenciosa da consciência. A Bíblia pode ecoar parte dessa voz, sim — em frases de sabedoria, em gestos de compaixão, em metáforas poderosas. Mas não creio que ela seja imune ao erro. E tudo bem. Porque talvez o que ela mais nos ensine não seja o que é divino, mas o que é profundamente humano: o desejo de compreender o invisível.

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