Sobre os pastores "renomados" e os invisíveis

Observar certos eventos religiosos apenas destacando figuras “renomadas” me causa incômodo profundo. Como se o reconhecimento público fosse sinal de maior autoridade moral ou espiritual. Mas e aqueles que vivem longe dos palcos? Aqueles que dedicam suas vidas em silêncio, atravessando regiões esquecidas, cuidando de pessoas, alimentando esperanças onde quase nada floresce — esses não têm valor?

Li em um post que continha linguagem apelativa: 
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Para mim, há algo seriamente incoerente nessa lógica. A grandeza de um ser humano não se mede pelos holofotes que o iluminam, mas pelo bem que ele promove quando ninguém está olhando. Exaltar nomes por sua fama e perpetuar a ilusão de que visibilidade é virtude, isso, sinceramente, fere qualquer senso real de justiça.

Não posso ignorar a dignidade dos que caminham nas sombras, firmes no seu propósito, enquanto outros erguem suas vozes em palanques. Há algo de mais autêntico e honesto naqueles que, IMERSOS NO MINISTÉRIO, vivem suas convicções em silêncio do que nos discursos ensaiados dos que buscam aplausos. Se há um princípio que me orienta, é este: o valor está na ação desinteressada, não na reverência pública.

Esses que são considerados "invisíveis" carregam uma força silenciosa que vale mais do que qualquer título concedido por convenção humana. E é por eles que quero falar.

Vejo Ordens de ministros, Convenções e Denominações exaltando figuras de destaque como se o verdadeiro valor estivesse no brilho do nome, no tamanho da plateia, na quantidade de seguidores. Falam de “renome” como se fosse sinônimo de autoridade. Mas pergunto novamente: e os que vivem longe dos palcos, dos microfones, dos holofotes? Eles não são referência também?

Há quem percorra quilômetros em estradas de terra para levar consolo. Há quem viva entre os esquecidos, sem luz de mídia, sem aplausos — apenas com a convicção firme de fazer o bem. Não têm títulos estampados em cartazes, nem são convidados para grandes púlpitos, mas carregam uma dignidade que não se mede com métricas humanas. Para mim esses já estão IMERSOS NO MINISTÉRIO.

Chamar de “renomados” alguns e silenciar outros é perpetuar a lógica injusta do prestígio. É olhar para a vocação como produto e não como missão. É inverter os valores que deveriam sustentar qualquer prática de cuidado e orientação. E eu me recuso a ser cúmplice disso.

Falo por aqueles que vivem o que muitos apenas discursam. Por quem não tem fama, mas tem entrega. Não busco derrubar nomes — quero levantar consciências.

Se essas palavras incomodarem, também foi para está finalidade que as escrevi. Que esse texto incomode, provoque e, sobre tudo, traga à consciência o valor dos invisíveis já IMERSOS NO MINISTERIO.

Porém existe uma outra questão: uma cumplicidade silenciosa que tantos preferem não enxergar. 

Não é só quem sobe ao palco que sustenta essa lógica de prestígio — é também quem se acomoda diante dela. É quem se senta nas fileiras organizadas, olha para o alto e consente, mesmo que algo dentro de si diga que tem algo errado dentro desse sistema. É quem prefere manter o “bom convívio institucional” a questionar uma estrutura que desvaloriza os invisíveis e exalta os aplaudidos.

Quando vejo outros pastores — homens e mulheres de caminhada humilde, que vivem a serviço do bem — entregando sua reverência aos famosos, eu me pergunto: isso é respeito ou alienação? A que custo estamos aceitando esse teatro?

É preciso um despertamento para que muitos possam romper com esse encantamento por nomes brilhantes que, muitas vezes, ofuscam a essência do que deveria ser um ministério: cuidar, escutar, acompanhar, servir. Não é possível que se continue a confundir influência com integridade, prestígio com profundidade, agenda lotada com espiritualidade verdadeira.

Faço um apelo à lucidez. Que os pastores "renomados" tenham a coragem de sair da plateia e recusem os papéis que lhes escrevem. Que os alienados recuperem a razão e parem de aplaudir o espetáculo, para resgatar o que o sistema religioso esconde: o valor dos invisíveis e a verdade do serviço.

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