Transformar o mundo com humanidade

Como deísta, entendo Jesus não como alguém que rompe com as leis naturais por meio de milagres, mas como um reformador moral profundamente conectado às necessidades do seu tempo. 
Seus seguidores, com base na tradição oral, compilou relatos de cura atribuídos a ele e, à luz dessa perspectiva, ganham uma dimensão simbólica — não como fatos sobrenaturais, mas como narrativas criadas por seus seguidores, após a sua morte, para fundamentar sua autoridade ética e política em contraposição à hegemonia política e religiosa dos seus opressores.

Na Roma imperial, os governantes eram retratados como agentes de cura e salvação, com isso garantindo sua legitimidade. Como o Imperador Vespasiano, que, segundo Tácito, um dos maiores historiadores de Roma entre o I e o II século, curou um coxo e um cego. (Paine, 2022).

Colocar Jesus nesse mesmo patamar, através das narrativas evangélicas, parece uma maneira deliberada de criar uma figura contra-hegemônica: um “curador” não dos palácios, mas das ruas; não dos poderosos, mas dos esquecidos.

Essas curas, então, funcionam como metáforas de um novo projeto social. Jesus, simbolicamente, cura ao restaurar vínculos, ao desafiar normas de exclusão e ao promover reconciliação. Ele não invoca o sobrenatural, mas a consciência — e isso tem imenso valor libertador.

Portanto, os evangelhos constroem sua imagem como líder político alternativo não com espadas, mas com compaixão ativa. E isso, para quem crê num Deus que nos dotou de razão e liberdade, é o milagre maior: transformar o mundo com humanidade.

Postagens mais visitadas