Sobre a psicanálise



Por meio deste mapa conceitual (clique para ampliar), serão apresentados breves dados biográficos do criador da Psicanálise, os primórdios da sua teoria e técnicas e as bases fundamentais propostas por ele, bem como avanços na teoria psicanalítica, personalidades importantes da pós-fundação da Psicanálise e do movimento psicanalítico brasileiro.

Seu fundador, Sigismund Schlomo Freud (1856-1839), judeu, nascido em Freiberger na Morávia, em 6 de maio de 1856. Seu Pai era Jacob Freud e a sua mãe, Amalia, a qual não escondia a sua predileção por este filho. Aos quatro anos de idade, a sua família mudou-se para Viena, ao experimentar o nome “Sigmund” nos últimos anos da Escola, adotou-o após o seu ingresso na Universidade de Viena, em 1973. Concluiu medicina em 1886, abriu o próprio consultório e casou-se com Martha Bernays com quem teve seis filhos: Mathilde, Jean Martin, Oliver, Sophie Halderstdt, Ernst e Anna Freud. Em 1908, Freud formou a Sociedade de Psicanálise de Viena, que garantiu a continuidade da escola de pensamento. Durante a segunda Guerra Mundial e a perseguição nazista contra os judeus, Freud mudou-se para Londres. Debilitado pelo câncer bucal, foi à óbito em 1939, pela prática do suicídio assistido. (Gay, 2012)

Nos primórdios da sua teoria e técnicas, Freud propôs as bases fundamentais da Psicanálise em direção ao seu objeto: o inconsciente, “seguimento da mente em que abriga materiais reprimidos” (Gay, 2012, p.142).

A teoria prototípica de Sigmund Freud envolve o anseio de descobrir o que ocorre na vida inconsciente de mulheres que sofrem de histeria. Enamorando a hipnose, Freud quis conhecer o trabalho do francês Jean Martin Charcot, para identificar como esta técnica poderia contribuir para descobrir a razão da histeria. Mas “o efeito era apenas catártico e algumas pacientes não eram hipnotizáveis, e a fala sem censura pareceu a Freud um meio de investigação muito superior.” (Ibdem, 2012. p.87). Ao abandonar a hipnose, Freud passa a se ocupar com a livre associação, interpretação de sonhos, análise de resistências e transferências. 

O método da livre associação torna-se “regra constitutiva da situação psicanalítica, segundo a qual o paciente deve esforçar-se por dizer tudo o que lhe vier à cabeça, principalmente aquilo que se sentir tentado a omitir, seja por que razão for” (Roudinesco, 1998, p. 649). Para Freud, “era preciso convidar os pacientes a ‘se deixarem levar’ e ‘exigir deles’ que não deixassem de revelar um só pensamento ou ideia, a pretexto de o acharem vergonhoso ou doloroso’”. (Roudinesco apud Freud, 1998, p.649). O objetivo seria a liberação de afetos, lembranças e representações importantes para o trabalho do analista. A análise dos sonhos se incluía.

Nas palavras de Freud o sonho é “um material que provém, de alguma forma, de experiências” (Freud, 2019, p. 25,33) Alguns sonhos são provocados por estímulos simples: temperatura do ambiente, a ingestão excessiva de comida ou líquido antes de dormir, porém a interpretação de determinados sonhos para fins terapêuticos demanda o conhecimento dos conflitos específicos relacionados à história do paciente (Schultz, 2023). 

O outro elemento importante é a análise da resistência que surgem durante à associação livre. Para Freud, as resistências estão relacionadas com as instâncias psíquicas, pois “as resistências ligadas ao EGO podem se manifestar em forma de recalque, na resistência da transferência ou como lucro da persistência da neurose, sendo a cura vivida como um perigo para o EGO; quando ligadas ao ID, leva à compulsão à repetição; e quando ligadas ao SUPEREGO, exprimem-se em termos de culpa inconsciente e necessidade de punição” (Roudinesco, 1998, p.660). Juntamente com a livre associação, surge a ideia de transferência “que para o médico se dá por falsa conexão” (Freud, 2016, p.424). A transferência consiste em um “processo em que o paciente responde ao terapeuta como se ele fosse uma pessoa importante em sua vida” (Schultz 2023, p.326).

Também ocorreram mudanças sobre a compreensão da libido. “Freud concebia essa energia psíquica pulsional como estritamente sexual, mas subsequentemente ele ampliou o conceito para incluir todas as expressões de amor, prazer e autopreservação” (VandenBos, 2010, p.556). Enfatizando a Libido, Freud delimita os Estágios Psicossexuais relacionados ao desenvolvimento infantil centrado nas zonas erógenas. 

No estágio oral, dos primeiros meses da criança, a principal fonte de satisfação está na estimulação da boca, no sugar, morder e engolir; no estágio anal, entre 2 e 3 anos, ocorre a transferência da boca para a região anal, no expelir e no reter das fezes, coincidindo com a fase do aprendizado da higiene íntima e o desenvolvimento de conflitos relacionados ao comportamento anal-expulsivo, caracterizado por sujeira, desperdício e extravagância e anal-retentor, ligado uma vida excessivamente ordeira, limpa, conscienciosa, compulsiva, preocupada com arrumação, eficiência e perfeição; no estágio fálico que ocorre por volta dos 4 anos, surgem as fantasias sexuais, as carícias e as exibições dos órgãos genitais. 

Schultz explica que o Complexo de Édipo ocorre nesse estágio, quando as crianças se sentem atraídas pelos pais de sexo oposto e superam esta fase quando se identificam com os pais do mesmo sexo, substituindo sua paixão para uma afeição mais socialmente aceita. As crianças que passam por essas fases entram no período de Latência dos dos 5 aos 12 anos, até o início da puberdade, quando começa a fase genital. (Schultz (2023)

Sobre as Pulsões, Freud concebia duas forças que se contrapunham: a Pulsão de Vida, que ele associou palavra grega Eros, não só ligada a pulsões sexuais, mas a amor, prazer e autopreservação; e a Pulsão de morte, Thânatos, associada à diminuição da própria libido e à manifestação de agressividade, sadismo, masoquismo e autodestruição. (VandenBos, 2010)

As pulsões possuem elementos fundamentais como fonte, sendo o próprio corpo; pressão é a quantidade de energia pulsional dirigida à satisfação; meta é a finalidade e um objeto é o que torna possível e dá sentido à pulsão. A força oposta à satisfação é a repressão, uma operação psíquica que tende a suprimir conscientemente uma ideia ou um afeto cujo conteúdo é desagradável (Roudinesco, 1998, p.659) A repressão é numa das defesas do ego que afasta pensamentos inaceitáveis para longe da percepção consciente. Existem outros mecanismos de defesa como “negação, deslocamento, projeção, racionalização, formação reativa, regressão, sublimação” (Schultz, 2023, p.343). 

Outra manifestação do inconsciente são os sintomas, “manifestações deslocadas da moção inconsciente recalcada” (Roudinesco, 1998, p.130) Têm uma relação com a consequência do processo de recalcamento de uma manifestação pulsional que sofre a censura e retorna em direção ao próprio EU do indivíduo na forma de algo que lhe impõe sofrimento. Em relação aos sonhos já foram apresentados conceitos anteriormente. 

Quanto aos atos falhos são “erros ou lapsos inconscientes na escrita, na fala ou na ação causados por impulsos que rompem as defesas do EU, revelando os verdadeiros desejos ou sentimentos do indivíduo” (VandenBos, 2010, p.111). E o chiste “é um juízo lúdico” (Fischer apud Freud, 2017, p.18), como piadas e brincadeiras de duplo sentido com trocadilhos feitos de forma inconsciente que permite o sujeito falar algo que, sem eles, não conseguiria falar.

Sobre a primeira tópica, Freud considerou as três instâncias da psique: o inconsciente, abrigo de conteúdos recalcados e inacessíveis à consciência; o pré-consciente, reserva de conteúdos não presentes na consciência, mas acessíveis a ela; e o consciente, relacionado ao conhecimento que o sujeito tem de sua relação com o mundo e consigo (Roudinesco, 1998). Na segunda tópica, reavaliação do seu primeiro trabalho, Freud propôs o conceito de Id, como parte mais primitiva da personalidade; EGO, representando a razão e obediente ao principio da realidade, porém vigiado pela instância do SUPEREGO, formado a partir da relação com os pais e/ou o grupo social. Sua função é inibir a plena satisfação do Id e limitar o EGO, sujeitando este ao desenvolvimento de neuroses. (Schultz, 2023, p.341-342)

Após a fundação da psicanálise, houve contribuições como a de Alfred Adler (1870-1937), membro da Sociedade Psicanálise de Viena, de base freudiana e o primeiro a abandoná-la, alegando que as pessoas eram afetadas tanto por fatores sociais quanto pelas pulsões do inconsciente identificadas por Freud; Carl Jung (1875-1961) discípulo de Freud, afastou dele por divergências teóricas, desenvolvendo a psicologia analítica; Melanie Klein (1882-1960), influenciou a psicanálise com seu trabalho com crianças e a utilização de brincadeiras como forma de terapia; Anna Freud (1895-1982), filha do fundador, elaborou sua teoria sobre mecanismos de defesa do Ego, contribuindo com terapias humanistas do século XX; Jacques Lacan (1901-1981), médico, psiquiatra e também psicanalista, versado em filosofia, arte e literatura, ministrou seminários atualizando a teoria freudiana, fundou a Sociedade de Psicanálise Francesa, sem deixar de declarar-se Freudiano convicto. Fundou a Escola Freudiana de Paris (1963 e a Escola da Causa Freudiana (1981); e Erich Fromm (1900-1980), identificou de vários tipos de personalidades improdutivas, caracterizando indivíduos que evitam assumir responsabilidades comprometendo o crescimento produtivo e pessoal. (Collin, 2016)

No Brasil houveram também representantes importantes como Juliano Moreira (1873-1933) diretor do Hospício nacional dos Alienados, atual Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, e também presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise por sua aproximação às ideias de Freud; Franco da Rocha (1864-1933) fundador do antigo Hospício de Juqueri, atual Hospital Psiquiátrico do Juqueri, também foi presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise e autor do primeiro livro no Brasil sobre as teses freudianas – A doutrina pan-sexualista de Freud (1920); Gastão Pereira da Silva (1897-1987) um dos primeiros psicanalistas do Rio de Janeiro e propagador da doutrina freudiana ao publico comum por meio livros, colunas de revistas, cursos de psicanálise por correspondência e por meio da rádio Nacional; Durval Marcondes (1899-1981), fundador da Sociedade Brasileira de Psicanálise em 1927 com reconhecimento provisório da Associação Internacional de Psicanálise (IPA) em 1929, foi responsável pela institucionalização da psicanálise em São Paulo no fim dos anos de 1930. Ele também foi responsável pela chegada de Adelheid Koch (1896-1980) no Brasil, médica judia, recém formada pelo antigo Instituto de Psicanálise de Berlim, responsável por formar, em São Paulo, o primeiro grupo de psicanalistas oficialmente autorizados em solo brasileiro. (RUSSO, 2023, p.469-473)

Na concisa explicação deste mapa conceitual, procurou-se de maneira objetiva apresentar os conceitos de forma coesa, sistemática e coerente com a evolução dos conceitos e seus significados. O que se apresenta neste mapa conceitual é apenas um breve conhecimento de uma teoria ampla, a qual está em movimento na história e evoluindo deste a sua fundação.



REFERÊNCIAS:

COLLIN, Catherine, et al. O LIVRO DE PSICOLOGIA. São Paulo: GLOBO LIVROS, 2016.

FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos (1900). São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

FREUD, Sigmund. O chiste e sua relação com o inconsciente (1905). São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

FREUD, Sigmund; BREUER, Josef. Estudos sobre a histeria (1893 – 1895). São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

GAY, Peter. Freud: uma vida para nosso tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998

RUSSO, Jane Araujo. O movimento psicanalítico brasileiro. In: JACÓ-VILELA, Ana Maria, et al. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2023.

SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Sydney Ellen. História da psicologia moderna. São Paulo: CENGAGE, 2023.

VANDENBOS, Gary R. Dicionário de Psicologia APA. São Paulo: Artmed, 2022.

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