Sobre os meus limites e a minha espiritualidade
Reconhecer os meus próprios limites, considero um ato de coragem e sabedoria. Por muito tempo, tentei manter um discurso que concordava com a ideia de que não havia barreiras que eu não pudesse transpor, acreditando que a verdadeira força residia em não recuar, em sempre dizer "sim" e encarar tudo de frente. Mas aprendi o poder de dizer "não" a partir do momento que entendo onde termina minha capacidade e onde começa o desgaste. Com isso comecei a dar sinais de respeito por mim mesmo.
Quando reconheço meus limites, evito me perder em expectativas irreais e frustrações desnecessárias. Sei que posso me desafiar e crescer, mas também que há momentos em que recuar não significa falhar, e sim cuidar da minha energia, da minha sanidade e da minha própria jornada, pois indo devagar ou correndo, o dia em que me encontrarei com o fim, inevitavelmente, chegará.
Ao aceitar que não posso tudo e que preciso de descanso, apoio e tempo para evoluir, me fortaleço ainda mais, num passo por vez. Porque para mim o verdadeiro poder não está em negar os meus limites, mas sim em aceitá-los e saber lidar com eles de maneira saudável, sem medo de parecer vulnerável, aceitando a minha humanidade como passo fundamental para viver de forma inteligente e saudável. Considero isso como um reconhecimento corajoso e necessário.
Um dos limites que reconheci estava relacionado a experiência de viver sofrendo por causa de uma religiosidade doentia. Eu imputava sobre mim mesmo, por ilusão e fantasia, uma postura diante das pessoas de um notável sacerdote religioso. Adotei por anos posturas e papéis porque aceitava ser a forma perfeita que eu deveria ser percebido. Isso me satisfazia de algum modo, porém me destruía por dentro; tudo por influência social, medo de desapontar os outros e pela expectativa ideal que permitir que outros criassem sobre mim. Mas percebi que essa imagem não correspondia à minha verdadeira essência e isso foi um passo significativo para que eu iniciasse uma jornada para uma vida mais autêntica.
Ao reconhecer essa ilusão, eu mesmo me dei a oportunidade de me conectar com minha própria verdade, sem precisar corresponder a um papel que não refletia minha real forma de pensar e sentir. E essa mudança, apesar de desafiadora, trouxe-me liberdade. Aprendi que a espiritualidade, como qualquer outra dimensão da vida, deve ser vivida de forma genuína, sem máscaras ou imposições externas.
Por muito tempo, fui ensinado a aceitar crenças sem questionamento, como se duvidar fosse um sinal de fraqueza, rebeldia e pecado. No entanto, usar a razão para refletir sobre o que acredito me fortalece e me aproxima de uma fé mais consciente e verdadeira.
Usar a razão permite que minhas convicções sejam mais sólidas e possa fazer escolhas mais alinhadas com a minha essência. Afinal, acreditar sem pensar pode gerar dependência e me tornar vulnerável ao perigo de ser manipulado e privado de minha liberdade de decidir. Ao estabelecer esse limite, eu não rejeito Deus, mas decido acreditar nele a partir de uma construção pessoal, baseada em meu entendimento e não em imposição externa.
Esse processo de ressignificação é muito importante na minha jornada de autoconhecimento. Ao considerar o caminho da espiritualidade algo pessoal e fundamentado no meu próprio entendimento, permito que ela evolua junto comigo, sem estar preso a imposições externas ou expectativas alheias. Isso me traz mais liberdade para explorar questões espirituais de maneira autêntica, sem a necessidade de me encaixar em padrões pré-estabelecidos.
Além disso, essa abordagem me faz compreender a reflexão e o questionamento como partes essenciais das minhas experiências, tornando a minha jornada repleta de momentos de crescimento. Dessa forma, assumo a minha jornada espiritual de modo inteligente e me desvio de uma estrada pavimentada por dogmatismos. Para mim isso se traduz em um caminho novo e vivo, moldado pela razão, experiência e aprendizado.
Sobre a minha crença em Deus...
Eu creio em Deus. Não mais como uma entidade que interfere em cada detalhe da minha vida, mas como quem quer me ver adultecer, aprendendo a ponderar sobre a Lei de causa e efeito, associando-a às minhas ações e suas consequências.
Eu creio em Deus. Não mais como quem intervém nos acontecimentos ou que exige e precisa devoção absoluta. Mas sim como a grande inteligência que originou o universo, estabeleceu suas leis e permitiu que tudo existisse por si.
Para mim, Deus não é uma presença que dita regras ou distribui recompensas e punições, segundo as religiões — Ele é a força primordial, a razão por trás da existência.
Minha crença não se baseia em revelações ou dogmas, mas na observação do mundo ao meu redor, na harmonia das leis naturais, na complexidade do cosmos e beleza do equilíbrio que sustenta a vida.
Nada disso parece para mim fruto do acaso, e é aí que encontro a essência divina.
Não rejeito a existência de verdades nos livros sagrados, mas acredito que essas verdades foram escritas a partir das experiência humana. Em outras palavras, considero que os textos sagrados podem conter ensinamentos morais, históricos e filosóficos valiosos, mas não acredito que essas mensagens sejam revelações diretas de Deus.
Vejo-os como criações de diferentes culturas e épocas, refletindo a sabedoria e a visão dos povos que os escreveram. Ao lê-los, posso ter insights profundos sobre ética, espiritualidade e comportamento humano, mas não os considero autoridades absolutas ou infalíveis. Assim, busco contemplar a grandeza do Eterno na lógica e na grandiosidade da própria realidade, pois Ele é antes da primeira palavra pronunciada e de toda e qualquer escrita.
Não espero que Deus interfira em minha jornada, nem que conduza minha vida com mãos invisíveis. Mas que ao contemplar a sua grandeza em tudo que existe, eu compreenda, evolua e busque sentido dentro das possibilidades que eu tiver no intervalo de tempo que durar a minha vida. Desejo que a razão me guie, e é através dela que minha crença Nele se fortalecerá.
Creio que Deus criou tudo, mas não precisa estar presente em cada detalhe intrusivamente, alienando-me do exercício da minha própria responsabilidade moral e social, o qual preciso executar com sabedoria, prudência, justiça, temperança, coragem e amor — e, para mim, como já manifestei nas palavras acima, isso não diminui Sua grandeza, apenas redefine minha forma de enxergá-lo e de exercer o meu propósito de modo mais prático para o meu bem e da minha familia humana.
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