A angústia da liberdade pela saída do Paraíso no pensamento de Erick Fromm


Erich Fromm (1900-1980) foi um psicanalista, sociólogo e filósofo alemão-americano. Integrante da Escola de Frankfurt, explorou temas como liberdade, alienação e amor. Suas obras, como O Medo à Liberdade, analisam a psicologia social e os desafios da modernidade. Defensor do humanismo, criticou tanto o capitalismo quanto o totalitarismo.

Erich Fromm interpreta a narrativa mítica da queda de Adão e Eva como um momento crucial na história da consciência humana, um marco simbólico da transição da dependência para a liberdade. No Paraíso, viviam em harmonia, sem dilemas morais ou necessidade de escolhas. Ao consumirem o fruto proibido, despertaram para a consciência de si mesmos e para a responsabilidade sobre suas ações. 

Para ele, a consequência da queda e a expulsão do Paraíso não é apenas um castigo divino, mas uma metáfora para o despertar da liberdade e da individualidade. Simboliza o ingresso na existência humana plena, onde a autonomia traz consigo a angústia da incerteza. Fromm destaca que essa nova realidade pode ser assustadora, levando muitos a buscar refúgio na submissão a autoridades ou na conformidade social. Esse mito funciona como uma metáfora do dilema humano: escolher entre a segurança da obediência ou a complexidade da autonomia.

Para ele, a verdadeira liberdade não está em retornar ao estado inicial, ao Paraíso, mas em assumir a responsabilidade pelas próprias decisões e construir uma identidade genuína. A queda não representa um fracasso, mas sim um avanço essencial para o amadurecimento e a realização pessoal.

Porém, essa nova consciência traz consigo uma profunda angústia: a angústia da liberdade. No Paraíso, como crianças, eles viviam em harmonia, sem preocupações, sem dilemas morais, sem a necessidade de tomar decisões difíceis. No entanto, ao serem expulsos, enfrentaram a realidade do adultecimento: a liberdade de agir, mas também a incerteza e o medo que acompanham essa autonomia. 

Fromm argumenta que essa angústia da liberdade é um dos principais desafios da humanidade, levando muitos a buscar formas de escapar dela—seja por meio da submissão a autoridades, da conformidade social ou da alienação.

Para Fromm, a verdadeira liberdade não está em retornar ao Paraíso, ou seja, na infantilização, mas em aceitar a responsabilidade por nossas escolhas e desenvolver uma identidade autêntica. Ele sugere que, ao invés de fugir da angústia, devemos abraçá-la como parte essencial do crescimento humano, do adultecimento. Assim, a queda de Adão e Eva pode ser vista não como uma tragédia, mas como o primeiro passo para a maturidade e a realização plena da existência, baseada na originalidade e no potencial individual.

Fonte: O Medo à Liberdade (Erick Fromm)

Comentários

Postagens mais visitadas