Na calma da leitura, o eco de antigas buscas
Sento com a Bíblia nas mãos como quem segura um espelho antigo. Sei que ela não guarda as palavras diretas de Deus — ao menos, não para mim. Mas guarda algo tão precioso quanto: o testemunho da alma humana tentando compreender o infinito.
Como deísta, não me prendo a dogmas, nem à ideia de que Deus dita versos ou impõe leis religiosas. Creio que Ele nos deu razão, consciência e liberdade — e com isso, nos entregou o dom e a responsabilidade de procurar sentido por nós mesmos. E a Bíblia, nesse caminho, é uma das vozes que sussurram perguntas e possíveis respostas.
Algumas passagens me incomodam. Outras, me tocam. Há páginas que me fazem refletir por dias, e outras que simplesmente deixo passar. Mas nunca leio com desprezo — leio com curiosidade, com espírito aberto, como quem ouve os fragmentos de uma conversa antiga entre a humanidade e o mistério da existência.
Não tomo tudo como verdade eterna, mas tampouco ignoro a beleza que há ali. Leio para entender o ser humano, para perceber como as culturas tentaram traduzir o divino, e — vez ou outra — encontro uma frase que acende algo em mim, como uma centelha que ilumina a noite silenciosa do pensamento.
É assim que caminho com a Bíblia: não atrás dela, nem contra ela, mas ao lado, ouvindo quando faz sentido, discordando quando necessário, e seguindo sempre com os olhos voltados para o Deus único que vejo se revelar na ordem do universo, e no silêncio claro da consciência desperta.